Entrevista com o tatuador Raphael Torres

Olá, meu nome e Raphael Torres, tenho 28 anos e moro na cidade do rio de janeiro. Atualmente trabalho no estúdio que tenho junto com meu primo, Bruno torres


1 - Qual foi seu primeiro contato com a tattoo?

Meu primeiro contato com tattoo foi como muitos outros, nas inofensivas bancas de jornais comprando todo tipo de aguia, serpentes e caveiras. Depois disso foi so com 17 anos, quando entrei de aprendiz em um estúdio de verdade.


2 - Quando e como se iniciou? Teve algum mentor (a)? Se sim, quem foi?

Como disse, meu primeiro contato real na tatuagem foi num estúdio aqui da tijuca chamado Leonardo Novaes. Depois disso abri meu próprio estúdio junto com meu primo.


3 - Em que ano começou a Tatuar efetivamente como profissional?

Eu considero mesmo 2008, porque foi quando fiz minha primeira tatuagem. O ano anterior, foi basicamente de estudo e aprendizado.


4 - Em que momento escolheu o Tradicional pra seguir?

Assim como hoje, naqueles anos ainda tinham muitas pessoas que levavam o tradicional como algo sem estudo, algo que pode ser tosco e você consegue usar como desculpa o tradicional. Depois de um tempo, tentando alguns outros estilos e procurando algumas soluções para o que eu queria, eu comecei a achar tatuadores com um traço tradicionais que me interessava.


5 - Algum estilo de musica "bandas" ou algum esporte ajudou você a entrar na tatuagem e tem lhe ajudado ate hoje na elaboração de seus trabalhos?

Não...não exatamente. Mas como qualquer arte, acho que a música é sempre muito presente e com muitas influencias.


6 - Principais referências nacionais e internacionais?
Hoje em dia vejo muito os trabalhos do Rafa Decraneo, Bara, Uncle Alan, Joe Ellis, Ivan Antonyshev, Alex Bage. Nacionais, rafael plaisant, Denys melo, rodrigo Salomao, oderus, Jessica O... Enfim, tantos que fico ate perdido. Mas não poderia deixar de citar tatuadores que me inspiraram tanto, mesmo alguns não sendo do estilo que eu me encaixo, que são: Bruno torres, Diego Moko, Dionel Orona, Renah bittencourt, Leandro Laranjeiras, Renato Dias, Leandrone, Leo Lavatori, Daniel Novais, Marcio Duarte, Mauro Nunes, Cacau Horihanna, Grime, Lango, Tim Biedron... Dá pra ficar um bom tempo falando sobre isso.


7 - O que acha da cena tradicional no BR e como acha que podemos melhorar?

Eu acho que muitas pessoas usam o tradicional como desculpa. Muitas vezes você vê um desenho tosco e sem estudo e o artista, se assim pode ser chamado, fala que é tradicional. Eu acho que não é porque alguns desenhos antigos não são tão bem estudados, que os atuais não podem ser. Claro que se você quer algo mais nessa pegada, crua ok, mas não precisa ser tosco nem mal feito. Sailor Jerry é um excelente exemplo disso, desenhos super bem feitos, bem acabados e atuais. Não é a toa que ainda é referência. Acho que um pouco mais de estudo e busca, você vai ver uma variedade enorme de artistas que fazem tradicionais, cada um no seu estilo e com trabalhos bonitos, armonicos e bem acabados.


8 - O que acha da cena tradicional em outros países?

Infelizmente eu não tenho como responder essa pergunta. Ainda não consegui me programar para uma viagem ao exterior, mas pelo o que eu acompanho parece ser um estilo muito mais presente devido a quantidade de trabalho diferenciado e estúdios que trabalham apenas com esse estilo.


9 - O que a tatuagem fez na sua vida no quesito profissional e pessoal?

A tatuagem fez muito pela minha vida pessoal, gracas à Deus. Sempre me botando em caminhos com bons profissionais, pessoas que puderam adicionar muito na minha vida e no meu dia à dia. No profissional eu não sei nem o que dizer, já que foi meu segundo "emprego", mas ela está sempre em mudança e adicionando cada dia uma coisa diferente.


10 - Como você vê os profissionais do ramo da tatuagem nos dias de hoje?
Em sua opinião a cena atual esta fraca?
Existem dificuldades de crescimento na area?
E por fim, você acha que está faltando algo para melhorar e fortalecer a união no geral?

Acho que hoje em dia esta ficando muito banalizado, ninguém mais parece se interessar pela tatuagem em si mas pelo status, pelo dinheiro, pelo estilo de vida. Os tatuadores que estão começando, não querem mais ir para um estúdio pra aprender, querem ir para pegar clientes. Ninguém mais quer começar de baixo, aprender como montar uma máquina, tintas boas, aplicação. Estudar os estilos, ver qual que você curte, qual você se encaixa... Não, já começam com estilos próprios e querendo rabiscar todos até a cara. Isso tudo enfraquece a cena, já que nenhum desses se preocupa em ao menos procurar saber quem é Maurício Teodoro ou qualquer um dos grandes tatuadores que nós temos ou se estão fazendo a coisa certa com o mínimo de ética.
Na minha opinião para melhorar e fortalecer cabe aos tatuadores se juntar (ou algum se prontificar) e promover mais encontros como o Good Moments ou a Orinal Tattoo Conference, (caso tenham algumas outras nesse estilo, peço desculpas pois não conheço) que são encontros de tatuadores feito por tatuadores PARA tatuadores. Um encontro voltado justamente para discutir tatuagem, ver tatuagem, aprender tatuagem sem nenhuma competição para julgar a arte.


11 - Acha que a desinformação sobre o estilo entre a população geral afeta diretamente o mercado?

Eu acho que sim. Aqui no Rio pelo menos ainda tem muita gente que não conhece muito o estilo, daí dificulta mesmo.


12 - Teria alguma historia ou situação que passou com algum cliente ou visitante no estúdio e que te marcou?

Tive vários momentos... Uma cobertura de cicatriz num braço de uma mulher que fez com que ela voltasse a usar manga curta. Uma senhora que fez o mickey pois ama a disney mais que tudo ou um simples nome de um filho que faleceu.


13 - Você já pensou em parar de tatuar, se sim por qual motivo?

Eu acho que quem aprende do jeito certo, quem vê isso como mais que uma profissão, mais que um estilo de vida ou qualquer outro motivo desses, não para não.


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Um pouco sobre o tatuador Renah Bitencount

Meu nome é Renah Bitencount tenho 35 anos e hoje tenho um estúdio privado na cidade de Niterói RJ.



Meu primeiro contato direto com a tatuagem foi quando adolescente. Eu tinha por volta de 15 anos e trabalhava em uma loja de skate na minha cidade (São Gonçalo. Na região metropolitana do RJ) E um tatuador chamado Tony dividia um espaço da loja com uma pequena área de tattoo. Por ele eu conheci alguns outros tatuadores mas nessa época tatuar nem me passava pela cabeça



Por volta de 2003/ 2004 eu comecei a correr atrás de estúdios para trampar como aprendiz e passei por alguns estúdios próximos a minha cidade.



Talvez eu não tenha tido um só mentor mas pude aprender um pouco com grandes tatuadores pelos estúdios onde passei. Como Robson Cahu que me deu minha primeira máquina de tattoo e o Wagner Braz que me apresentou vários estilos de tatuagem e indiretamente me influenciou a curtir o estilo tradicional



Em 2005 comecei a atender como tatuador nos mesmos estúdio onde eu tinha passado como aprendiz. E já tentava vender o meu trabalho como o então Old School mesmo não tendo muito apelo comercial



O hardcore foi o que mais me influenciou a ser tatuador. E nessa época essa ideia da tatuagem ser um espelho da sua personalidade era ligado diretamente a cena hard core punk. Me moldou em toda parte estética e ideológica na representatividade das tatuagens.



Minhas principais influências no Brasil foram: Marcos Ribeiro, Henrrique Mattos, Teté, Maneco, Neto, Ivan, Rico, Lango e Rodrigo Mello...
Influências estrangeiras: Dave Gibson , Tim Hendricks, Mario Dessa, Sabado, Seth Ciferri , Grime...



Acho um pouco difícil falar da cena no Brasil como um todo ainda mais eu sendo do RJ um lugar onde tem muitas peculiaridades em toda a cena da tattoo. Mas pelo o que vejo na internet é que a tatuadores trabalhando com tradicional em todo o Brasil e com um nível de trabalho cada vez melhor



A tatuagem já é meu life stile a um pouco mais de uma década rs não tem como separar minha vida da tatuagem. Não dá pra ser tatuador só depois que abro a porta do meu estúdio. Oque tenho foi dado pela tatuagem e ainda tenho muito o que fazer por ela



A cena de hoje vejo um conflito de gerações muito explícito. Tatuadores no auge dos seus trabalhos perdendo espaço para novos tatuadores que se promovem em mídias sociais. Mas prefiro acreditar que tudo isso passa. A tatuagem fica , os clientes amadurecem e os tatuador (de verdade) se mantém



Como eu disse antes eu acho um pouco difícil julgar toda a cena nacional com a minha simples visão local. Aqui no Rio o câncer da cena são novos estúdios sendo abertos por empresários e não por tatuadores. A visão empresarial em um estúdio de tatuagem é muito nociva. Quando pessoas que não tem o mínimo compromisso com a tatuagem ganham espaço muitas vezes difíceis para um tatuador. É por fim dominam toda a cena com grandes estúdios organizando convenções e etc...



Eu acho que atitudes como essas que vocês estão tendo por aqui fortalecem a cena da tattoo. Como também conferências, exposições, convenções de pequeno e médio porte organizadas por tatuadores que prezam pela qualidade de trabalho fortalecem a cena e inspira quem está chegando com intuito de levar a tatuagem a sério!



O  grande problema da tatuagem tradicional é esse aspecto simples. Acredito que isso não seja só aqui no Rio mas parecer simples atrai muito curiosos a tatuadores com releituras mal feitas e trabalhos mal acabados. E aí que entramos na questão das mídias sociais. Esses mesmos tatuadores alcançam uma visualização muito grande com trabalhos ruins e para o cliente que está começando a se tatuar e se interessar por tatuagem tradicional tem esses trabalhos mal acabados como referências por conta das #.



Conversando com amigos eu ouço que o desânimo é comum e comigo não foi diferente. Mas parar de tatuar nunca passou pela minha cabeça



Saiam da sua zona de conforto. Estudem sempre. Vejam a tattoo como um todo e não só o que você acha que sabe fazer.


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Entrevista com o tatuador Luiz Calixto

Meu nome é Luiz Calixto, tenho 32 anos, sou do Rio de Janeiro e um dos tatuadores a frente do Estúdio Labirinto



1 - Qual foi seu primeiro contato com a tattoo?

Eu me recordo de quando criança ter visto uma tatuagem, acho que algum vizinho, lembro que era um dragão e aquilo me chamou muito a atenção, as cores o desenho. Fiquei c aquela imagem na cabeça.                                                                         



2 - Quando e como se iniciou? Teve algum mentor (a)? Se sim, quem foi?

Assim, antes da tatuagem eu trabalhei em diversas outras áreas, fui OfficeBoy e até cheguei a trabalhar em um Laboratório farmacêutico, e esse acabou sendo meu último trabalho “formal”. Após isso eu resolvi que ia me dedicar as coisas que eu gostava e fui procurar estúdios e tatuadores que pudessem me ajudar, não foi fácil. Acabei encontrando uma forma de estar perto da tatuagem, fiquei panfletando pra um estúdio que tinha em um shopping aqui do Rio, assim conseguia observar  e absorver o máximo que podia, isso foi em 2005. Com o tempo fiquei mais próximo dos tatuadores e comecei a ajudar nas funções internas do estúdio, limpando o estúdio, lavando bicos...essas coisas . La eu não tive um mentor, mas tive pessoas que me ajudaram e me apoiaram bastante, e lá acabou se tornando o primeiro estúdio em que trabalhei como tatuador.



3 - Em que ano começou a Tatuar efetivamente como profissional?

Em 2007 eu comecei a tatuar profissionalmente, se pensar que essa passou a ser minha única forma de renda.



4 - Em que momento escolheu o Tradicional pra seguir?

Na verdade eu nunca escolhi seguir o Tradicional, acho que em determinado momento eu pude me dedicar mais a fazer a tatuagem com uma estética que me agrada mais, mas não sei se é exatamente tradicional. Eu acho q um trabalho bem feito, linhas e pigmentação bem feitas, pra durar, não precisa ser necessariamente um tradicional. Metade desse período que eu tatuo foi fazendo de tudo, e isso me ajudou e ajuda a fazer o que faço hoje em dia.



5 - Algum estilo de musica "bandas" ou algum esporte ajudou você a entrar na tatuagem e tem lhe ajudado ate hoje na elaboração de seus trabalhos?

Acho que o hardcore/punk foi e é uma grande influência, não só pra mim né, essa ideia do underground, do subversivo, as artes das bandas, dos zines, uso isso como referência até hj, mesmo que como trilha enquanto desenvolvo algum trabalho.



6 - Principais referências nacionais e internacionais?

Os caras que trabalham comigo, eles passam a maior parte do meu tempo ao meu lado né, e a influência no trabalho e bem clara até. Rafael Plaisant, Marcos Ribeiro, Denys Melo, Pedro ewbank e Iuri Casaes, esses caras são referência e me influenciam em diferentes pontos. Fora eles posso citar varios nomes, todos tem uma certa importância na minha carreira, mas vou passar horas aqui. Hj em dia é até foda esse lance de referência, uma galera não sabe quem é quem, não sabem quem esteve no corre antes deles, não sabem que só estão aí porq outros ralaram pra isso, estão mais preocupados com status e número de seguidores em alguma rede social.



7 - O que acha da cena tradicional no BR e como acha que podemos melhorar?

A cena da tatuagem no Brasil tá complicada, muito “tatuador” com pouca ou nenhuma informação, muita merda na verdade. Fala pra um jovem desse ser aprendiz, aprender a soldar agulha, lavar bico, entender o mínimo sobre a máquina, desenhar,  limpar o estúdio...pra mim isso é a base, mas eles não querem, eles querem colocar no perfil que são tatuadores e colherem os benefícios, pra eles é arte...foda ver ótimos profissionais perdendo espaço pra esse tipo de parasita. Então independente de estilo acho que o panorama geral tá complicado.



8 - O que acha da cena tradicional em outros países?

Acho que os caras devem passar alguns perrengues parecidos com esses daqui, mas a história dos caras é outra, tem todo um contexto que acredito influenciar de forma mais positiva.



9 - O que a tatuagem fez na sua vida no quesito profissional e pessoal?

Eu me sinto privilegiado de estar a esse tempo todo fazendo uma das coisas que mais amo e conseguir sobreviver disso. Hj eu tenho meu próprio estúdio junto à pessoas mega talentosas, tenho a oportunidade de conhecer e trabalhar ao lado de profissionais que admiro. Conhecer lugares e pessoas diferentes, fiz alguns amigos por conta da tatuagem, e isso já vale demais.



10 - Como você vê os profissionais do ramo da tatuagem nos dias de hoje?

Em sua opinião a cena atual esta fraca?

Existem dificuldades de crescimento na aérea?

E por fim, você acha que está faltando algo para melhorar e fortalecer a união no geral?

Os profissionais da tatuagem estão aí fazendo tatuagem, fazendo o corre de sempre, mesmo com as dificuldades, eles respeitam o que fazem. Já o resto, que se diz tatuador mas que na verdade não fazem tatuagem, estão atrapalhando e buscando status, acho até que a única coisa que eles fazem bem é atrapalhar! Essa nova geração antes de querer ser tatuador deveria quere ser aprendiz, mas o processo e longo e não é fácil, e eles estão acostumados a ter tudo fácil, são imediatistas,  não dão o devido valor às coisas, não tem respeito. Acho que em algum momento eles mesmos se enforcam, e quem é real fica.



11 - Acha que a desinformação sobre o estilo entre a população geral afeta diretamente o mercado?

Acho que educar as pessoas sobre o que é uma tatuagem bem feita não é fácil, a propaganda do que é ruim acaba sendo maior, vendem o falso como verdadeiro, então somos afetados pela desinformação sim, mas acho que depende de nós mesmos fazermos esse trabalho com cada cliente, e fazer entender que tatuagem não é um cacho de banana, é algo pra vida toda, tem que ser bem feita e feita pra durar.



12 - Você já pensou em para de tatuar, se sim por qual motivo?

Já, nos primeiros anos. As dificuldades que encontrei por não ter alguém muito mais experiente pra poder me ajudar dificultaram no desenvolvimento do meu trabalho, isso me deixou bastante desestimulado e frustrado durante um tempo, como eu preciso trabalhar pra sobreviver, cheguei até um ponto decisivo, mas acabou dando tudo certo no final e eu estou aqui.



13 - Deixe aqui uma Mensagem ou visão pessoal que queira passar adiante.

Tatuagem é coisa séria e não deve ser feita por amadores. Respeito por quem veio antes, respeito e amor pelo que você faz! Obrigado FLT pelo espaço e iniciativa!!!


Sobre Fabiano Nievola




Eu sou o Fabiano, tenho 34 anos, sou de Curitiba e tatuo aqui na LAIA.

 1- Qual foi seu primeiro contato com a tattoo?

 Meu primeiro contato com a tattoo foi na minha adolescência, lá por volta de 1998 em Minas Gerais, que foi onde nasci. Era tudo muito precário, não tínhamos nada de informação e a galera fazia do jeito que achava certo. Eu passei minha adolescência toda envolvido no meio Punk/Hardcore, então a diversão dos fins de semana era ouvir música, tomar um gole e a galera se tatuava. Mas eu não tatuei ninguém nessa época. Tinha alguns amigos que tatuavam nessas condições, até meu primo que morava na mesma cidade abrir um estúdio de tattoo. Daí então todos tivemos um contato mais "profissional" com a tatuagem. Depois desse primeiro contato, me distanciei bastante da tatuagem. Fui fazer inúmeras outras coisas da vida e retomei o interesse apenas anos depois.

 2- Quando e como se iniciou? Teve algum mentor (a)? Se sim, quem foi?

 Depois de me envolver com muitas outras áreas profissionais, chegando a cursar Mecânica Industrial e 2 anos de Engenharia, o meu interesse por desenho e tatuagem ressurgiu em 2012, depois de uma visita do meu primo, aquele que abriu o estúdio de tattoo lá em 1999, 2000 em MG, o Ganso Galvão. Ele mora e tem Loja no Rio de Janeiro já há muitos anos. Ele me fez enxergar que eu precisava de algo à mais na minha vida. Eu havia abandonado até os desenhos, há cerca de 7 anos, quando ele me visitou aqui, a gente tatuou e eu me senti vivo, mano. Sério. Aquilo acendeu uma chama no meu peito. Larguei a Engenharia e fiz vestibular pro curso de Gravura, da Faculdade de Belas Artes, aqui em Curitiba. Eu já havia voltado a desenhar, mas lá na Faculdade eu conheci uma galera da tattoo que foi o estopim pra eu começar a tatuar. O Andrey (Rito), o Neto Lobo, outras pessoas que por coincidência iriam começar a tatuar naquela época e inclusive cheguei a trabalhar junto, mas principalmente o Felipe Shake, que me emprestou a primeira máquina de tattoo, me incentivou demais e me deu as primeiras dicas. Um tempo depois o Andrey me chamou pra tatuar na minha primeira Loja, que é a mesma que estou até hoje, a LAIA.



 3- Em que ano começou a Tatuar efetivamente como profissional?

 Mano, eu comecei a tatuar em Setembro de 2013, na sala de casa. Em janeiro de 2014 montei um quartinho pra eu tatuar, no mesmo terreno, mas já não mais dentro de casa. Acho que "profissionalmente" mesmo eu aprendi a trabalhar na LAIA, loja que eu tenho uma gratidão e um carinho enorme por me abrir as portas da maneira como abriu e como me acolhe até hoje, como membro da família mesmo.

 4- Em que momento escolheu o Tradicional pra seguir?

 No começo eu tatuava de tudo, acho que como todo mundo. Mas já percebia que eu gostava de fazer mais alguns tipos de trabalho que outros. Nessa época eu desenhava muito quadrinho, tipo Marvel e DC comics, então eu curtia uns trampo de HQ quando rolava. Mas era tudo copiado. Então num certo momento eu foquei em criar meus próprios desenhos. Saía um lance meio Neo Trad, mas eu usava cor demais! Virava uma salada de fruta. Na LAIA eu comecei a ver muitos outros tatuadores trabalhando e meu aprendizado foi bem mais rápido do que quando trampava sozinho lá no quartinho. Percebi que tinha cor demais e fui reduzindo. Começou a ficar um Neo trad mesmo, mas eu ainda não tava satisfeito. Usava várias espessuras de linha e tal, aquele lance Neo Trad mesmo. Decidi simplificar meu desenho. Me senti melhor, mais solto. Mais divertido de trabalhar. Fui simplificando, olhando mais tattoo e desenho tradicional que os Neo Trad como referência e acabou chegando no que é hoje. Foi bem natural o lance.



 5- Algum estilo de musica "bandas" ou algum esporte ajudou você a entrar na tatuagem e tem lhe ajudado ate hoje na elaboração de seus trabalhos?

 Mano na real tudo que eu faço com música sai melhor. Pra desenhar eu ouço muito Punk/HC e quase todas suas vertentes e Rap também. Curto muito música, muito mesmo. Tenho tattoo de algumas bandas que eu gosto e quero fazer mais, hahaha. Acho que música tem tudo a ver com tattoo.

 6- Principais referências nacionais e internacionais?

 Muita gente de fora eu admiro o trabalho. Mas referência pra mim mesmo é quem tá perto, que eu conheço, que eu sei esforço e do corre. Minhas referências são geralmente Tradicionais ou Neo Trad. No tradicional eu admiro muito o Henrique Véio e o Paulo Cequina. No Neo Trad o Neto Lobo e o Fidel Teles, todos aqui de Curitiba mesmo. Mas eu curto muito o trampo de algumas pessoas que fazem outros estilos tbm, como o Andrey (Rito) aqui da cidade, que faz um Blackwork pesadíssimo e o Ganso Galvão do Rio de Janeiro, que faz realismo preto e cinza. Mas tem muita gente que eu admiro o trampo e que me influenciam como profissional e pessoa, mano. Ficaria aqui mó tempão pra escrever tudo.



 7- O que acha da cena tradicional no BR e como acha que podemos melhorar?

 Mano, o Tradicional no Brasil é foda demais. Tem muita gente fazendo coisa muito boa e coisa que você percebe que é feita com o coração, com respeito à tattoo e respeito aos clientes. Isso é muito legal! Aqui em Curitiba mesmo tem muita gente fazendo trabalho tradicional de qualidade e com respeito à tatuagem, acima de tudo. Penso que pra melhorar a galera do tradicional tem que fazer o que tem feito, inclusive com a FLT: se unir, fazer amizades, trocar informação, amar e respeitar a tattoo acima de tudo. Essa é  fórmula e esse pra mim é o espírito da tatuagem: Amor, amizade, conhecimento, união e diversão.

 8- O que acha da cena tradicional em outros países?

 Acho difícil falar de um lance que a gente não vive, saca? Vejo muito tatuador foda em outros países, mas falar de cena é complicado pelo fato de não viver o que eles vivem. São mundos diferentes, o nosso da Europa e EUA, por exemplo. Na América Latina, principalmente no Paraguai, Argentina e Uruguai sei que tem muita Loja de Tattoo tradicional e tatuadores bons porque tenho amigos e conhecidos que viajam para esses países e contam. Mas é só.



 9- O que a tatuagem fez na sua vida no quesito profissional e pessoal?

 Eu sempre digo que nunca vi a tatuagem mudar a vida de ninguém pra pior. Mas pra melhor eu poderia te dar inúmeros exemplos. Comigo não foi diferente. Eu achei o que faltava na minha vida. Não me imagino vivendo mais sem a tatuagem. E acho que não poderia ser diferente. Quando você faz o que faz por amor e é verdadeiro, tudo na sua vida tende a melhorar, não tem erro! Tatuagem é o que eu vivo e é a minha vida, literalmente.

 10- Como você vê os profissionais do ramo da tatuagem nos dias de hoje?
Em sua opinião a cena atual esta fraca?
Existem dificuldades de crescimento na aérea?
E por fim, você acha que está faltando algo para melhorar e fortalecer a união no geral?

 Falando no geral, não só nos profissionais que fazem tradicional, tem algo me entristece bastante. Vejo muito "lifestyle" pra pouca tattoo. Infelizmente vejo que "lifestyle" vende bem mais que qualidade do trabalho. Isso é umas das coisas que mais me deixa triste no meio da tatuagem. Em contapartida, vejo profissionais sérios, preocupados com a qualidade do seu trabalho e em manter uma relação de honestidade com seus clientes. E é esse caminho que eu procuro seguir.
      A cena da tatuagem tradicional pelo menos aqui em Curitiba, que é o que eu mais vivencio, está muito viva. Tem muita gente fazendo um trabalho muito bom, que você percebe que é feito com amor, respeito, honestidade e dedicação. Tem aqui na cidade pelo menos uns 4 estúdios dedicados ao Tradicional, além de vários outros tatuadores que trabalham em estúdios que não são dedicados apenas ao Trad, mas que fazem acontecer com acima de tudo respeito à tattoo. Claro que o público para o tradicional não chega nem perto de outros estilos como o blackwork, por exemplo. Trabalho numa Loja em que vários tatuadores de diferentes estilos convivem e percebo bem essa diferença.
     Acredito que a iniciativa da FLT é muito válida para unir mais a galera do tradicional de vários cantos do Brasil. Disseminar a informação sadia, apresentar novos tatuadores, formar laços, isso é muito interessante.



 11- Acha que a desinformação sobre o estilo entre a população geral afeta diretamente o mercado?

 Afeta sim. Muito. O público ainda tem a idéia de que o tradicional é algo tosco, feito por pessoas que "não sabem desenhar". Nós que estamos no meio sabemos que não é assim e nosso trabalho é disseminar a informação real, sadia. Apresentar o estilo com toda a beleza e alma que o tradicional possui. O difícil é derrotar a moda, falando em termos gerais. Mas com isso a gente vai sempre ter que conviver, infelizmente. As tattoos da moda vão e vem numa velocidade impressionante. O tradicional fica. Essa é uma das belezas do tradicional.

 12- Teria alguma historia ou situação que passou com algum cliente ou visitante no estúdio e que te marcou?
 Situações do dia a dia me marcam muito. Quando paro pra pensar na minha primeira tattoo, no dia que comecei a tatuar no meu quartinho lá no terreno de casa, quando fui levar meus desenhos lá na LAIA e comecei a trabalhar lá... tudo isso tá guardado na minha memória e sempre me lembro com felicidade dessas situações. Me marca um elogio sincero de um amigo, uma crítica construtiva, tudo isso é bagagem e tá tudo na memória. Eu fico muito honrado a cada tattoo que faço em clientes que me procuram pelo meu trabalho e não porque cobrei mais barato que fulano de tal ou porque estou mais perto, sei lá. Me marca muito e fico muito feliz quando me procuram pelo que eu faço.
    Tem uma banda que eu gosto muito aqui de Curitiba, chamada Os Catalépticos, que eu conheci na minha adolescência quando morava lá em MG ainda em 98, na época da fita k7. A tatuagem me proporcionou que eu conhecesse os integrantes da banda devido ao meu trabalho, ficasse amigo deles e os tatuasse. Esse foi só um dos momentos felizes que a tatuagem já me proporcionou.



 13- Você já pensou em para de tatuar, se sim por qual motivo?

 Eu sou meio bipolar. Então às vezes eu tô muito feliz com tudo e às vezes eu quero ir pro meio do mato e viver de plantação de tomate, hahaha. Não vou negar que já pensei em parar de tatuar, por vários motivos. Mas sempre deitei a cabeça no travesseiro e no outro dia acordei pensando: "que porra é essa de parar de tatuar?". Mano, tatuagem é minha vida. Sem chance.



 14- Deixe aqui uma Mensagem ou visão pessoal que queira passar adiante.

 Amor, respeito, humildade, amizade, honestidade e dedicação. Isso é tatuagem pra mim. Muito obrigado pelo espaço e vida longa FLT!


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