Eu sou o Fabiano, tenho 34 anos, sou de Curitiba e tatuo aqui na LAIA.
1- Qual foi seu primeiro contato com a tattoo?
Meu primeiro contato com a tattoo foi na minha adolescência, lá por volta de 1998 em Minas Gerais, que foi onde nasci. Era tudo muito precário, não tínhamos nada de informação e a galera fazia do jeito que achava certo. Eu passei minha adolescência toda envolvido no meio Punk/Hardcore, então a diversão dos fins de semana era ouvir música, tomar um gole e a galera se tatuava. Mas eu não tatuei ninguém nessa época. Tinha alguns amigos que tatuavam nessas condições, até meu primo que morava na mesma cidade abrir um estúdio de tattoo. Daí então todos tivemos um contato mais "profissional" com a tatuagem. Depois desse primeiro contato, me distanciei bastante da tatuagem. Fui fazer inúmeras outras coisas da vida e retomei o interesse apenas anos depois.
2- Quando e como se iniciou? Teve algum mentor (a)? Se sim, quem foi?
Depois de me envolver com muitas outras áreas profissionais, chegando a cursar Mecânica Industrial e 2 anos de Engenharia, o meu interesse por desenho e tatuagem ressurgiu em 2012, depois de uma visita do meu primo, aquele que abriu o estúdio de tattoo lá em 1999, 2000 em MG, o Ganso Galvão. Ele mora e tem Loja no Rio de Janeiro já há muitos anos. Ele me fez enxergar que eu precisava de algo à mais na minha vida. Eu havia abandonado até os desenhos, há cerca de 7 anos, quando ele me visitou aqui, a gente tatuou e eu me senti vivo, mano. Sério. Aquilo acendeu uma chama no meu peito. Larguei a Engenharia e fiz vestibular pro curso de Gravura, da Faculdade de Belas Artes, aqui em Curitiba. Eu já havia voltado a desenhar, mas lá na Faculdade eu conheci uma galera da tattoo que foi o estopim pra eu começar a tatuar. O Andrey (Rito), o Neto Lobo, outras pessoas que por coincidência iriam começar a tatuar naquela época e inclusive cheguei a trabalhar junto, mas principalmente o Felipe Shake, que me emprestou a primeira máquina de tattoo, me incentivou demais e me deu as primeiras dicas. Um tempo depois o Andrey me chamou pra tatuar na minha primeira Loja, que é a mesma que estou até hoje, a LAIA.
3- Em que ano começou a Tatuar efetivamente como profissional?
Mano, eu comecei a tatuar em Setembro de 2013, na sala de casa. Em janeiro de 2014 montei um quartinho pra eu tatuar, no mesmo terreno, mas já não mais dentro de casa. Acho que "profissionalmente" mesmo eu aprendi a trabalhar na LAIA, loja que eu tenho uma gratidão e um carinho enorme por me abrir as portas da maneira como abriu e como me acolhe até hoje, como membro da família mesmo.
4- Em que momento escolheu o Tradicional pra seguir?
No começo eu tatuava de tudo, acho que como todo mundo. Mas já percebia que eu gostava de fazer mais alguns tipos de trabalho que outros. Nessa época eu desenhava muito quadrinho, tipo Marvel e DC comics, então eu curtia uns trampo de HQ quando rolava. Mas era tudo copiado. Então num certo momento eu foquei em criar meus próprios desenhos. Saía um lance meio Neo Trad, mas eu usava cor demais! Virava uma salada de fruta. Na LAIA eu comecei a ver muitos outros tatuadores trabalhando e meu aprendizado foi bem mais rápido do que quando trampava sozinho lá no quartinho. Percebi que tinha cor demais e fui reduzindo. Começou a ficar um Neo trad mesmo, mas eu ainda não tava satisfeito. Usava várias espessuras de linha e tal, aquele lance Neo Trad mesmo. Decidi simplificar meu desenho. Me senti melhor, mais solto. Mais divertido de trabalhar. Fui simplificando, olhando mais tattoo e desenho tradicional que os Neo Trad como referência e acabou chegando no que é hoje. Foi bem natural o lance.
5- Algum estilo de musica "bandas" ou algum esporte ajudou você a entrar na tatuagem e tem lhe ajudado ate hoje na elaboração de seus trabalhos?
Mano na real tudo que eu faço com música sai melhor. Pra desenhar eu ouço muito Punk/HC e quase todas suas vertentes e Rap também. Curto muito música, muito mesmo. Tenho tattoo de algumas bandas que eu gosto e quero fazer mais, hahaha. Acho que música tem tudo a ver com tattoo.
6- Principais referências nacionais e internacionais?
Muita gente de fora eu admiro o trabalho. Mas referência pra mim mesmo é quem tá perto, que eu conheço, que eu sei esforço e do corre. Minhas referências são geralmente Tradicionais ou Neo Trad. No tradicional eu admiro muito o Henrique Véio e o Paulo Cequina. No Neo Trad o Neto Lobo e o Fidel Teles, todos aqui de Curitiba mesmo. Mas eu curto muito o trampo de algumas pessoas que fazem outros estilos tbm, como o Andrey (Rito) aqui da cidade, que faz um Blackwork pesadíssimo e o Ganso Galvão do Rio de Janeiro, que faz realismo preto e cinza. Mas tem muita gente que eu admiro o trampo e que me influenciam como profissional e pessoa, mano. Ficaria aqui mó tempão pra escrever tudo.
7- O que acha da cena tradicional no BR e como acha que podemos melhorar?
Mano, o Tradicional no Brasil é foda demais. Tem muita gente fazendo coisa muito boa e coisa que você percebe que é feita com o coração, com respeito à tattoo e respeito aos clientes. Isso é muito legal! Aqui em Curitiba mesmo tem muita gente fazendo trabalho tradicional de qualidade e com respeito à tatuagem, acima de tudo. Penso que pra melhorar a galera do tradicional tem que fazer o que tem feito, inclusive com a FLT: se unir, fazer amizades, trocar informação, amar e respeitar a tattoo acima de tudo. Essa é fórmula e esse pra mim é o espírito da tatuagem: Amor, amizade, conhecimento, união e diversão.
8- O que acha da cena tradicional em outros países?
Acho difícil falar de um lance que a gente não vive, saca? Vejo muito tatuador foda em outros países, mas falar de cena é complicado pelo fato de não viver o que eles vivem. São mundos diferentes, o nosso da Europa e EUA, por exemplo. Na América Latina, principalmente no Paraguai, Argentina e Uruguai sei que tem muita Loja de Tattoo tradicional e tatuadores bons porque tenho amigos e conhecidos que viajam para esses países e contam. Mas é só.
9- O que a tatuagem fez na sua vida no quesito profissional e pessoal?
Eu sempre digo que nunca vi a tatuagem mudar a vida de ninguém pra pior. Mas pra melhor eu poderia te dar inúmeros exemplos. Comigo não foi diferente. Eu achei o que faltava na minha vida. Não me imagino vivendo mais sem a tatuagem. E acho que não poderia ser diferente. Quando você faz o que faz por amor e é verdadeiro, tudo na sua vida tende a melhorar, não tem erro! Tatuagem é o que eu vivo e é a minha vida, literalmente.
10- Como você vê os profissionais do ramo da tatuagem nos dias de hoje?
Em sua opinião a cena atual esta fraca?
Existem dificuldades de crescimento na aérea?
E por fim, você acha que está faltando algo para melhorar e fortalecer a união no geral?
Falando no geral, não só nos profissionais que fazem tradicional, tem algo me entristece bastante. Vejo muito "lifestyle" pra pouca tattoo. Infelizmente vejo que "lifestyle" vende bem mais que qualidade do trabalho. Isso é umas das coisas que mais me deixa triste no meio da tatuagem. Em contapartida, vejo profissionais sérios, preocupados com a qualidade do seu trabalho e em manter uma relação de honestidade com seus clientes. E é esse caminho que eu procuro seguir.
A cena da tatuagem tradicional pelo menos aqui em Curitiba, que é o que eu mais vivencio, está muito viva. Tem muita gente fazendo um trabalho muito bom, que você percebe que é feito com amor, respeito, honestidade e dedicação. Tem aqui na cidade pelo menos uns 4 estúdios dedicados ao Tradicional, além de vários outros tatuadores que trabalham em estúdios que não são dedicados apenas ao Trad, mas que fazem acontecer com acima de tudo respeito à tattoo. Claro que o público para o tradicional não chega nem perto de outros estilos como o blackwork, por exemplo. Trabalho numa Loja em que vários tatuadores de diferentes estilos convivem e percebo bem essa diferença.
Acredito que a iniciativa da FLT é muito válida para unir mais a galera do tradicional de vários cantos do Brasil. Disseminar a informação sadia, apresentar novos tatuadores, formar laços, isso é muito interessante.
11- Acha que a desinformação sobre o estilo entre a população geral afeta diretamente o mercado?
Afeta sim. Muito. O público ainda tem a idéia de que o tradicional é algo tosco, feito por pessoas que "não sabem desenhar". Nós que estamos no meio sabemos que não é assim e nosso trabalho é disseminar a informação real, sadia. Apresentar o estilo com toda a beleza e alma que o tradicional possui. O difícil é derrotar a moda, falando em termos gerais. Mas com isso a gente vai sempre ter que conviver, infelizmente. As tattoos da moda vão e vem numa velocidade impressionante. O tradicional fica. Essa é uma das belezas do tradicional.
12- Teria alguma historia ou situação que passou com algum cliente ou visitante no estúdio e que te marcou?
Situações do dia a dia me marcam muito. Quando paro pra pensar na minha primeira tattoo, no dia que comecei a tatuar no meu quartinho lá no terreno de casa, quando fui levar meus desenhos lá na LAIA e comecei a trabalhar lá... tudo isso tá guardado na minha memória e sempre me lembro com felicidade dessas situações. Me marca um elogio sincero de um amigo, uma crítica construtiva, tudo isso é bagagem e tá tudo na memória. Eu fico muito honrado a cada tattoo que faço em clientes que me procuram pelo meu trabalho e não porque cobrei mais barato que fulano de tal ou porque estou mais perto, sei lá. Me marca muito e fico muito feliz quando me procuram pelo que eu faço.
Tem uma banda que eu gosto muito aqui de Curitiba, chamada Os Catalépticos, que eu conheci na minha adolescência quando morava lá em MG ainda em 98, na época da fita k7. A tatuagem me proporcionou que eu conhecesse os integrantes da banda devido ao meu trabalho, ficasse amigo deles e os tatuasse. Esse foi só um dos momentos felizes que a tatuagem já me proporcionou.
13- Você já pensou em para de tatuar, se sim por qual motivo?
Eu sou meio bipolar. Então às vezes eu tô muito feliz com tudo e às vezes eu quero ir pro meio do mato e viver de plantação de tomate, hahaha. Não vou negar que já pensei em parar de tatuar, por vários motivos. Mas sempre deitei a cabeça no travesseiro e no outro dia acordei pensando: "que porra é essa de parar de tatuar?". Mano, tatuagem é minha vida. Sem chance.
14- Deixe aqui uma Mensagem ou visão pessoal que queira passar adiante.
Amor, respeito, humildade, amizade, honestidade e dedicação. Isso é tatuagem pra mim. Muito obrigado pelo espaço e vida longa FLT!
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